Saiba a diferença entre Emendatio Libelli e Mutatio Libelli

Olá megeanos(as)!

No universo jurídico, a precisão é tão crucial quanto a compreensão. O blogpost de hoje desvenda duas noções complexas: Emendatio Libelli e Mutatio Libelli, ambas fundamentais no processo penal.

Enquanto a Emendatio Libelli permite ao juiz alterar a classificação jurídica do fato sem mudar a descrição inicial, visando uma sentença mais justa sem adicionar novos fatos, a Mutatio Libelli entra em jogo quando novos elementos surgem durante a instrução, exigindo uma revisão substancial e um reenquadramento legal que pode levar a uma penalidade mais severa. Esses ajustes são vitais para assegurar que o processo reflita a verdade dos fatos e a justiça seja feita de forma precisa e equitativa.

 

  • Emendatio libelli

Trata-se da hipótese na qual o juiz, ao condenar ou pronunciar o réu, atribui nova definição jurídica ao fato descrito, sem, porém, acrescentar a esse mesmo fato qualquer circunstância ou elemento que já não estivesse descrito na inicial acusatória. Referindo-se à sentença condenatória, dispõe, com efeito, o art. 383 do CPP que “o juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave”.

Por outro lado, tratando da decisão de pronúncia, estipula o art. 418 do CPP que “o juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais grave”.

Na emendatio libelli, em verdade, inexistem acréscimos na decisão judicial quanto ao fato inicialmente atribuído e que consta na denúncia ou na queixa. Por isso mesmo é que facultam os arts. 383 e 418 do CPP o reconhecimento pelo juiz de crime cuja capitulação importe em aplicação de pena mais grave independentemente de qualquer providência prévia relacionada à concessão de novas oportunidades de defesa ao réu.

Exemplo: denunciado o agente por crime de roubo capitulado no art. 157 do CP, sobrevém, no curso da instrução, a prova de que não houve violência nem grave ameaça. Diante disso, o juiz, suprimindo da inicial a referência à violência e à ameaça, condena o réu por furto simples. Há, nesse caso, emendatio libelli, já que o furto se encaixa na descrição do roubo. Defendendo-se de um roubo, defende-se o acusado de furto + violência/ameaça. Desta sorte, basta retirar de um roubo as circunstâncias “violência e grave ameaça” e já se tem caracterizada a subtração que tipifica o furto.

Eventualmente, a desclassificação provocada pela emendatio libelli pode importar em modificação de competência do juízo. Constatando tal hipótese, caberá ao juiz, fundamentadamente, realizar a desclassificação que a caracteriza, sem, contudo, proceder ao juízo de condenação ou de absolvição.

 

  • Mutatio libelli

Ao revés, a mutatio libelli ocorre quando no curso da instrução do processo, surgem novas provas quanto a elementos ou circunstâncias da imputação que não estejam contidos na denúncia ou na queixa e que, se reconhecidos pelo juiz, importam em alteração do fato para mais.

Nesse caso, o juiz, condenando ou pronunciando o réu, atribui ao fato nova definição jurídica, mediante o acréscimo de circunstâncias não mencionadas na denúncia ou na queixa-crime. Como há evidente prejuízo ao acusado, não poderá ser o indivíduo condenado ou pronunciado pelo novo crime sem que adotadas, antes, as providências referidas no art. 384 do CPP, que incluem o aditamento da peça acusatória pelo Ministério Público e consequente imputação dos novos elementos ou circunstâncias surgidos na instrução criminal.

Assim, inversamente ao ilustrado no tópico anterior, considere-se que, na instrução criminal de processo por furto, surjam provas da ocorrência de violência ou grave ameaça contra a vítima (o crime é de roubo, portanto). Considerando que a atribuição de roubo em vez de furto importa em reconhecer o juiz, na sentença, as elementares da violência ou da grave ameaça, as quais não foram mencionadas na denúncia, impõe-se aqui a aplicação prévia do disposto no art. 384 do Código de Processo Penal como condição para que possa o juiz condenar o réu pelo delito do art. 157 do Código Penal.

Todavia, assim como ocorre na emendatio libelli, também em sede de mutatio libelli, por força do art. 384, § 3.º, do CPP, tem aplicação a regra do § 2.º do art. 383, determinando que, “tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão encaminhados os autos”. Assim, se ao examinar o aditamento constatar o magistrado que o novo crime descrito é de competência de juízo diverso, caberá a ele encaminhar o processo a tal juízo.

 

A compreensão das nuances entre esses dois institutos é fundamental para quem navega pelos complexos mares do Direito Penal. Enquanto a Emendatio permite ajustes na classificação jurídica sem adicionar novos fatos, mantendo a acusação alinhada ao descrito inicialmente, a Mutatio exige uma reelaboração substancial diante de novos elementos surgidos, demandando aditamento e potencialmente alterando o curso do julgamento.

Essas ferramentas são cruciais para assegurar que os julgamentos reflitam a verdade dos fatos e respeitem os direitos de defesa, exemplificando a dinâmica e a precisão necessárias no sistema jurídico.

 

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